9 de julho de 2008

Livro - Brain Rules

Por Helena Oliveira- Artigo retirado da news-letter VER

Use a cabeça
Se é daqueles que acredita que é um mestre nas multi-tarefas, que longas horas de stress aumentam os níveis de adrenalina e fazem os seus colaboradores serem mais produtivos e que reuniões às 3 da tarde são óptimas para tomar decisões, temos más notícias para si. O nosso cérebro obedece a determinadas regras que desmentem todos estes mitos. Saiba, por isso, como tirar o melhor partido da sua massa cinzenta.





A literatura sobre a neurociência é agora avidamente consumida por um sem número de pessoas e, em especial, é um tópico que fascina os executivos. Afinal, o capital intelectual é o mais imprescindível activo da economia do conhecimento. Mas os segredos da gestão do cérebro encontram-se ainda longe de serem conhecidos, embora existam algumas estratégias e tácticas que podem ajudar a retirar o melhor partido da nossa massa cinzenta. John J. Medina, um biólogo molecular, consultor, professor e autor de inúmeros livros, oferece em Brain Rules: 12 Principles for Surviving and Thriving at Work, Home and School, algumas dicas simples que nos podem ajudar a aprender, ensinar, gerir negócios, trabalhar e a sermos melhores pais. É que, embora mantenhamos uma relação demasiado íntima com o nosso cérebro, na verdade pouco ou nada sabemos sobre ele. E é esta lacuna que Medina tenta preencher, a partir de 12 regras fundamentais, deitando por terra algumas das nossas mais arreigadas ideias sobre produtividade, concentração ou aprendizagem. Da próxima vez que achar estranho não se conseguir concentrar depois de 10 minutos a ouvir uma apresentação de um projecto ou errar a sua password de acesso ao seu computador, pelo menos já perceberá melhor as causas para tais acontecimentos e poderá corrigi-los.








Regra nº 1 – O exercício físico estimula o poder do cérebro

Se pensarmos numa perspectiva evolucionista, decerto que ninguém acredita que o nosso corpo foi feito para estar sentado oito horas em frente a um ecrã de computador. Na verdade, o cérebro foi-se desenvolvendo enquanto os nossos antepassados percorriam vários quilómetros por dia. O nosso cérebro ainda sente a necessidade dessa experiência ancestral, especialmente em populações sedentárias como as nossas. Para o biólogo, os uniformes escolares deviam ser substituídos por fatos de ginástica e, em cada escritório, devia existir uma passadeira rolante para os empregados se exercitarem. E não está a brincar. Memória de longo prazo, raciocínio, atenção, resolução de problemas: todas estas funções do cérebro podem ser melhoradas com o exercício físico. Este actua directamente na maquinaria molecular do cérebro e aumenta a criação, a sobrevivência e a resistência dos neurónios no que respeita aos danos e ao stress.

Regra nº 2 – O cérebro é um organismo em evolução

Concebido para solucionar problemas relacionados com a sobrevivência num ambiente instável e para o fazer num movimento quase constante, a ideia é que nos mantenha vivos e prontos para a transmissão dos genes. E são os cérebros mais fortes que sobrevivem e não os corpos. A nossa capacidade para resolver problemas, aprender com os erros e criar alianças com outras pessoas ajuda-nos a sobreviver. A nossa capacidade para compreendermos os nossos pares é a nossa principal ferramenta de sobrevivência. Tal como os relacionamentos e o espírito de equipa nos ajudaram a sobreviver na selva, eles são críticos também para a nossa sobrevivência no local de trabalho ou na escola. E se alguém não se sente seguro com um chefe ou com um professor, os níveis de performance são imediata e negativamente afectados. Para Medina, não existe pior ambiente para o cérebro do que a sala de aula ou os cubículos do local de trabalho. Como exploradores naturais que somos, o melhor ambiente para as crianças aprenderem seria, sem dúvida, uma Disneylândia que os ajudasse a experimentar, testar e a afirmarem-se.

Regra nº 3 – Cada cérebro tem as suas próprias conexões

Existem tantos neurónios num cérebro como estrelas numa galáxia. E, ao contrário do que se acreditava, não existem sete tipos de inteligência, mas tantos quanto as pessoas que vivem no mundo. O cérebro de cada estudante, trabalhador ou cliente é conectado de maneira diferente. E pode-se aceitar este facto com naturalidade ou simplesmente rejeitá-lo. O sistema de educação actual ignora-o, organizando os diferentes ciclos escolares de acordo com as idades. Empresas como a Amazon estão a apostar na customização de massas, ajustando os produtos às preferências denotadas pelos utilizadores. O problema é que todos nós assumimos que os nossos cérebros são iguais. Portanto, celebre a diferença.

Regra nº 4 – Não tomamos atenção ao que é aborrecido

Esta regra é fundamental para a esmagadora maioria de todos nós que acredita que é no multitasking que está o ganho. Nada mais errado. Mas lá iremos. A nossa experiência prévia vaticina aquilo a que devemos prestar atenção. E a cultura tem a sua quota-parte de importância também. Seja na escola ou no trabalho, estas diferenças afectam significativamente a forma como uma audiência apreende uma qualquer apresentação. Para o investigador, o nosso cérebro só se consegue concentrar durante um período máximo de 10 minutos, portanto e enquanto professor, aos 9 minutos e 59 segundos, Medina quebra a matéria que está a ensinar e conta uma história que tenha um quê de emocional. Fomos programados para tomar atenção às emoções, às ameaças e ao sexo. Independentemente de quem somos, o cérebro toma especial atenção às seguintes questões: posso comer isso? Isso vai-me comer? Posso acasalar com ela? Será que ela vai acasalar comigo? Já vi isto antes?
Um outro aspecto desta regra diz respeito ao facto do nosso cérebro ser absolutamente incapaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo, como muita gente acredita. Ter múltiplas janelas abertas no computador, enviar mensagens de telemóvel ou conversar enquanto se conduz são situações que nos levam duas vezes mais de tempo a terminar as tarefas que temos em mãos e duas vezes mais potenciais para que cometamos erros. Para os locais de trabalho e escolas que encorajam a arte do multi-tasking, poderá estar na altura de a repensar. E o autor vai mais longe afirmando que uma organização online é sempre a organização não produtiva.

Regra nº 5 – Repita para se recordar

Existem muitos tipos de memória, mas a capacidade de memorizar algo não excede, no início, os 30 segundos. Se não repetirmos a informação, ela simplesmente desaparece. O cérebro humano é capaz de apreender sete porções de informação em menos de 30 segundos. O que significa que é possível “receber” um número de telefone, por exemplo. Mas se quiser estender esses 30 segundos para alguns minutos ou horas, a única forma de o fazer é repetindo a informação. O mesmo se passa com a memorização dos nomes das pessoas que, a nível profissional, vamos conhecendo sem cessar e depois, em ocasiões futuras, não nos conseguimos recordar. Um bom exemplo desta repetição de sucesso é a “cantoria das tabuadas”, algo que hoje em dia não é praticado por muitas escolas e o resultado está à vista de todos.

Regra nº 6 – Recorde-se de repetir

Quanto tempo pensa que é necessário para consolidar informação? Anos, assegura Medina. Portanto há já quem defenda que a memória permanente não existe. No c+cérebro do professor, a escola de sonho para as crianças é aquela que repete o que foi aprendido, não em casa, mas durante o horário escolar, 90 a 120 minutos depois de a aprendizagem inicial ter ocorrido.Assim, como é possível recordar-se melhor? Uma exposição repetida da informação, em intervalos especificamente regulados, é a melhor forma para fixar a memória no interior do cérebro. Esquecer permite-nos priorizar os acontecimentos. Mas se se quer lembrar, lembre-se de repetir.

Regra nº 7 – Durma bem, pense bem

Por que é que dormimos? É muito possível que seja para que possamos aprender. O cérebro repete a informação aprendida durante o dia. E seríamos todos mais produtivos se fizéssemos uma sesta. Por outro lado e como passamos cerca de um terço das nossas vidas a dormir, é porque o sono é extremamente importante. A falta de horas de sono prejudica a atenção, a função executiva, a memória, a disposição, as capacidades quantitativas, o raciocínio lógico e até a destreza motora. Alguma vez se sente cansado a seguir ao almoço? Isso deve-se ao facto de o seu cérebro ter vontade de fazer uma sesta. Existe uma batalha no interior da sua cabeça entre dois exércitos: cada um deles é composto por uma legião de células cerebrais e bioquímicas – um que tenta desesperadamente que você se mantenha acordado, outro que tenta desesperadamente que você adormeça. Por volta das 3 da tarde, 12 horas depois do ponto médio do seu sono, tudo o que o seu cérebro quer fazer é dormir. Portanto, não marque reuniões para esta hora, porque os resultados serão negativos. E se não acredita, saiba que uma sesta de 26 minutos aumentou a performance dos pilotos da NASA em 34 por cento.

Regra nº 8 – Cérebros stressados não funcionam da mesma forma que cérebros não stressados

Como já é sabido, existe algum tipo de stress que é benéfico para o c+cérebro. Contudo, o stress de longo prazo é absolutamente improdutivo, pois o cérebro só foi concebido para lidar com o stress durante alguns segundos e não anos. 30 segundos é o máximo de tempo possível para o cérebro lidar eficazmente com situações de stress. Os nossos antepassados reagiam, em segundos, à investida de um tigre com dentes de sabre, porque senão eram comidos. Se tem um mau chefe, esse tigre pode estar à sua porta durante anos e você começa a desregular. O mesmo acontece caso se encontre num mau casamento e o tigre dormir anos na sua cama. O cérebro pode até encolher.O stress estraga qualquer tipo de cognição que possa existir. E quando se mantém durante um longo período de tempo, o seu sistema imunitário é igual e seriamente afectado. Adoece mais vezes, perturba a sua capacidade de dormir e atrai a depressão. E como só se tem um cérebro, que é o mesmo em casa ou no trabalho, o stress que se tem em casa afectará a performance no trabalho e vice-versa.
Medina oferece ainda um conselho valioso: a estabilidade emocional que tem em casa é meio caminho andado para o sucesso académico. Se pretende que o seu filho venha a ser um estudante de Harvard, vá para casa e ame a sua mulher.

Regra nº 9 – Estimular os sentidos

Os nossos sentidos foram concebidos para trabalharem em conjunto. Assim, quando são combinados num ambiente de aprendizagem (imagens em conjunto com texto, por exemplo), o cérebro presta mais atenção e codifica a memória mais facilmente. O cheiro é particularmente importante. Se, por exemplo, for submetido a um teste acerca dos pormenores de determinado filme, se sentir o cheiro de pipocas, recordará entre 10 a 50 por cento mais. Assim, trabalhar num local que seja multi-sensorial é mais produtivo e o que lá aprende é muito mais durável.

Regra nº 10 – A visão é soberana relativamente aos demais sentidos

Somos verdadeiramente incríveis a recordarmo-nos de fotografias. Se escutar uma peça de informação, três dias mais tarde só se recordará de cerca de 10 por cento do seu conteúdo. Adicione-lhe uma imagem e lembrar-se-á de 65 por cento. As imagens são também muito mais poderosas que o texto. O nosso cérebro interpreta as letras como se de pequenas imagens se tratassem e temos que identificar certas características nelas para as podermos ler. E isso leva tempo. E por que é a visão tão importante? Porque foi com ela que sempre identificámos as maiores ameaças, as reservas de comida ou a oportunidade da reprodução. Assim, se os seus powerpoints estão repletos de letras, apague-os de vez e complemente-os com imagens.

Regra nº 11 – os cérebros dos homens e das mulheres são diferentes

Ao mesmo estímulo, os cérebros femininos e masculinos respondem de maneira diferente. Se a mulher se concentra nos detalhes, o homem olha apenas para o que é essencial. Geralmente as mulheres são rotuladas como seres muito mais emocionais do que os homens. O que é errado. Se os homens tivessem a capacidade de apreender todos os detalhes de um acontecimento stressante, demonstrariam o mesmo tipo de emoção. E as emoções são muito úteis, pois obrigam o cérebro a prestar mais atenção.

Regra nº 12 – Somos exploradores naturais e poderosos

Um dos melhores atributos do cérebro humano é a sua capacidade para explorar e aprender em qualquer idade. O nosso desejo de explorar nunca nos abandona, mesmo apesar das salas de aulas e dos cubículos. Os bebés constituem o modelo da nossa aprendizagem – não através de uma reacção passiva ao ambiente, mas através de um testar activo que é feito através da observação, da hipótese, da experiência e da conclusão.O Google é um bom exemplo de uma empresa que tem no seu âmago o poder da exploração. Vinte por cento do tempo de trabalho dos seus empregados é guardado para seguir livremente as orientações que a sua mente lhes dá. E o resultado está à vista: o Gmail e o Google News nasceram neste período de 20 por cento.

Nota: Caso prefira ouvir o que John Medina pretende ensinar sobre a melhor forma de fortalecer o seu cérebro, visite o site http://www.brainrules.net/audio-book

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